O que é resiliência?

O termo vem da Física, e indica a capacidade de corpos voltarem à sua forma original após enfrentarem alguma pressão, deformação.

No campo da Psicologia, foi adotado para se referir à capacidade da pessoa de superar as situações adversas que enfrenta na vida, em todos os campos sociais. Vida pessoal, amorosa, profissional, situações dentro e fora do nosso controle. E a forma de como lidamos com elas é o que determina nossa resiliência.

Uma pessoa resiliente é aquela que consegue superar as dificuldades, problemas e obstáculos que surgem em sua vida, adaptar-se às novas realidades, resistir à pressão de diferentes situações. Porém, isso não é algo com o qual nascemos – muito pelo contrário, a resiliência é algo conquistado e desenvolvido durante nossa vida inteira, de maneira consciente e inconsciente, desde nossa infância até nossa velhice.

Assim, sabemos que ter resiliência não é algo fácil! Por se tratar de algo que envolve situações que vivemos desde sempre e até o fim, a resiliência se torna algo inconstante, não-linear. Tudo depende do lugar em que estamos em nossa vida – e, no nosso contexto atual, não é um lugar bom.

A pandemia da Covid-19 segue moldando as nossas realidades, voltando à tona mesmo quando achamos que a situação está controlada. Isso inegavelmente afeta tudo que acontece em nossas vidas, direta e indiretamente. É algo opressivo e fora do nosso controle, que não podemos deixar de lado ou ignorar a existência. Ela determina nosso dia a dia, como devemos nos portar, e tem um grande efeito sobre a sociedade – por exemplo, em nossas vidas amorosas e profissionais. Sobreviver psicologicamente a tudo isso tem demandado um grande esforço de todos nós, e é uma prova árdua à nossa resiliência. Mas, também, mostrou-se uma oportunidade de testarmos o quão resilientes somos, e como podemos fortalecê-la frente ao contemporâneo pandêmico.

A resiliência não envolve somente evitar situações e problemas, mas, também e principalmente, como lidar com aquilo que não podemos controlar ou prever.

Nesse contexto, segundo os diferentes pensadores da área – incluindo a monja Coen Roshi, terapeutas, médicos e professores -, a resiliência é algo que devemos conquistar e desenvolver, e reconhecer isso é o primeiro passo que damos. Aceitar que as coisas não são pré-definidas, que não nascemos prontos. Saber lidar com situações adversas não é uma habilidade inata, com a qual já nascemos, em que uns são melhores que os outros. Sim, certas coisas influenciam nisso – nossa situação de vida, quadros de saúde, principalmente psicológicos -, mas é algo que todos podemos desenvolver.

Claro que, não é fácil, como tudo na vida, porém é necessário; não sermos derrubados por qualquer inconveniência é uma ferramenta essencial para conseguirmos viver bem. Aceitar isso, que precisamos CONSTRUIR a resiliência, por não nascermos com ela, é o primeiro passo para conseguirmos desenvolvê-la.

O próximo passo? Empatia. Com nós mesmos, com os outros – entender as emoções, sentimentos e vontades de todos, começando conosco. Trabalhar para desenvolver um mundo melhor para todos que o habitam, para que, em troca, construímos um mundo melhor para nós mesmos, que torne mais fácil sobrevivermos e vivermos aqui. Empatia, humanismo, gratidão, otimismo, fraternidade, respeito à pluralidade da vida… Esses são pilares que sustentam um estilo de vida melhor, e que dão base rígida ao desenvolvimento da nossa resiliência.

Além da atitude é algo que dita nossa resiliência. Ver o copo meio cheio, não o meio vazio; entender que as situações que vivemos são passageiras; saber que vem o sol e o arco-íris depois da tempestade; lembrar que não estamos nessa sozinhos, que outros à nossa volta estão passando, também, por situações adversas, e que precisamos ajudar e sermos ajudados; termos a consciência de que as coisas não mudarão por si mesmas, não de maneira significativa, e que esperar não é uma opção. Acreditar que uma provação pode promover uma superação, uma evolução. Que podemos tirar aprendizados de tudo o que vivemos, bom ou ruim.

Portanto, ajustar as velas e adaptar nosso barco, uma vez que não podemos mudar o tempo que nos cerca. Nos treinarmos a ver a vida a longo prazo, não a curto; além do que vemos e vivemos agora, pensando no que virá depois, no que podemos fazer agora para nos aproximarmos desse local que almejamos. Tudo isso faz parte de ter a resiliência e ser resiliente – aprender a como lidar com as situações opressivas que a vida joga contra nós, sabermos como não ser arrastado e preso ao fundo do poço por essas adversidades. Grande parte da resiliência vem de nós mesmos, principalmente a vontade de mudar velhos hábitos, deixarmos a comodidade para trás e nos arriscar, sabendo que podemos mudar para melhor mesmo nos mais escuros de nossos tempos, desde que lembremos de acender nossa luz, seja sozinho, seja com a ajuda de terceiros (pessoas, ferramentas). Na verdade, a resiliência vem do nosso fortalecimento interno e externo, desenvolver as ferramentas que precisamos para lidar com os momentos ruins da vida, como uma crise depressiva ou de ansiedade, doenças graves, acidentes e incidentes, traumas… Isso tudo envolve objetos dentro de nós e que vêm de fora, talvez o principal sendo a comunicação e a honestidade, conosco e com outros.

Ser Resiliente envolve comportamentos, pensamentos e ações que podem ser aprendidas, exercitadas e desenvolvidas em qualquer pessoa. Ninguém nasce com ela, por mais que algumas pessoas se gabem disso. Não se deixe levar pela falsa aura de força e resiliência de terceiros – saiba que todos temos nossos próprios tempos para desenvolvê-la, e, mais importante, nossos próprios jeitos para isso. Por mais que algumas coisas sejam determinantes, como dito antes, não é uma fórmula pronta e exata, ela, como tudo, é adaptada a cada pessoa. Se adaptar a si mesmo é extremamente necessário para que possamos nos adaptar à vida e ao que nos cerca. Outras dicas para desenvolvermos a resiliência envolvem: enfrentar os obstáculos, ao invés de evitá-los; valorizar contatos importantes e buscar novas conexões, desenvolvendo nossa rede de apoio; praticar o autocuidado e o fortalecimento da nossa autoestima; encontrar um propósito, algo que nos motive a seguir em frente, independentemente do que seja – o importante é termos a força e a vontade para fazê-lo; abraçar a mudança como parte da vida, seja ela algo aparentemente positivo ou negativo – não como algo final, mas, sim, como inicial; estabelecer metas realistas e executáveis em todos os âmbitos da sua vida, para que seja gerada a motivação necessária para realizarmos metas maiores; analise as coisas em perspectiva, diferentes pontos de vista e possibilidades.

O pediatra Ken Ginsberg desenvolveu o modelo de 7 Cs da Resiliência, inicialmente para trabalhar com crianças e adolescentes, mas que se tornou amplo e útil a todos que buscam trabalhar a própria resiliência.

São eles: Competência (saber lidar com as situações de forma eficaz); Confiança (nas habilidades e em si mesmo); Conexão (com familiares e amigos, a rede de apoio que nos faz sentir seguros e pertencentes); Caráter; Contribuição (com o bem comum, em desenvolver um mundo melhor para todos, independente da raça, gênero, sexualidade, crença, etnia, etc); Combate (aprender a enfrentar o estresse e adversidades); e Controle (saber utilizar o controle interno para solucionar as situações).

Com esses 7 Cs e todas as dicas, você, também, pode a partir de agora trabalhar a sua própria resiliência – com um passo e um dia de cada vez, respeitando suas próprias limitações e vivências, levando em conta suas particularidades.